sábado, 17 de novembro de 2012

Marcha das Vadias – Itabuna 2012


No dia 24 de novembro marcharemos outra vez pelo fim da violência contra a mulher.  Em 2011, nossa cidade foi a primeira do interior do norte e nordeste a encampar o protesto. Esse ano, a II Marcha das Vadias-Itabuna participa da 21ª edição da campanha internacional: “16 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres”. No resto do mundo, a campanha começa dia 25 de novembro - Dia Internacional de Combate à Violência Contra as Mulheres - e no Brasil se inicia no dia 20 de novembro - Dia Nacional da Consciência Negra, dada a tripla discriminação sofrida pela mulher negra: opressão de gênero, raça e classe social.

Embora a Marcha seja um importante ato político, nosso movimento não se esgota no momento em que vamos às ruas.  Desenvolvemos ações formativas realizadas a partir do diálogo com a sociedade e com outros movimentos sociais e instituições representativas ou responsáveis pela defesa dos direitos das mulheres. Ao longo do ano, realizamos oficinas, cursos, palestras e atos em instituições, escolas, associações, universidades e praças, visando informar e conscientizar sobre questões relativas ao machismo, violência e direitos das mulheres. Além disso, o coletivo participou das Conferências Municipal, Territorial e Estadual de Políticas para as Mulheres e da Audiência Pública da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre a violência contra a mulher na Bahia.

Nas nossas ações, o nome “vadias” tem sido o principal motivo de estranhamento das pessoas. Cabe lembrar que a Marcha das Vadias originou-se no Canadá, num episódio em que estudantes foram advertidas por um policial de que poderiam ser estupradas no campus da Universidade de Toronto por se vestirem como “vagabundas” (sluts, em inglês). O protesto das universitárias foi o início do movimento SlutWalk, traduzido como Marcha das Vadias e realizado no Brasil nas maiores capitais e em algumas cidades do interior. Ao se reapropriar do termo “vadias”, o movimento de mulheres visa provocar a reflexão sobre o contexto de negativização da conduta feminina ao longo da história. Fundamentalmente, “vadias” são todas aquelas que se insubordinam, as que são culpabilizadas e colocadas à margem por desafiar as regras machistas. Assim, afirmamos e positivamos a palavra: se ser vadia é lutar pelo direito à nossa humanidade, sejamos todas vadias! 
          
A polêmica e o incômodo do termo têm rendido bons debates, mas o que justifica o movimento é o fato da igualdade entre os gêneros no mundo e em nosso país ser uma utopia. Embora tenhamos uma legislação favorável, como a Lei Maria da Penha, estamos imers@s na cultura do feminicídio. Em relação ao homicídio feminino, o Mapa da Violência 2012 apresenta os seguintes dados: no âmbito mundial, o Brasil ocupa o 7º lugar; no âmbito nacional, a Bahia está em 6º, Salvador em 94º e Itabuna em 33º; no âmbito estadual, Itabuna se encontra no 9º lugar. Proporcionalmente, matam-se mais mulheres em Itabuna do que em Salvador.

Os dados levantados de janeiro a 30 de outubro desse ano, fornecidos pela Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (DEAM) de Itabuna, perfazem um total de 1.389 ocorrências. São casos de violência física, sexual, moral e ameaças, cometidas em sua esmagadora maioria por maridos, namorados e familiares. Mas esse número estarrecedor não revela nossa tragédia, pois sequer entram nessa conta as requisições do Ministério Público, da Secretária de Segurança Pública, as ocorrências no Complexo Policial, as notícias-crime do Conselho Tutelar, do disque 100 e disque 180.

Impossível mensurar as agressões que não são denunciadas e as violências simbólicas cotidianas desgraçadamente naturalizadas: divisão desigual do trabalho doméstico, desigualdade salarial, ausência de direitos reprodutivos, demonização e inferiorização nas músicas, propagandas, novelas, programas de humor.

Por compreender que reverter esse quadro é um desafio de toda a sociedade, marchemos junt@s nessa grande mobilização política e façamos desse ato um grito coletivo que reverbere em todos os cantos. Não há o que temer, como apregoam os movimentos feministas: “quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede”.

Marcha das Vadias, 24 de novembro de 2012, saída do Jardim do Ó, às 9h, com destino à Avenida Cinquentenário.

Coletivo Feminista Marcha das Vadias-Itabuna