No
dia 24 de novembro marcharemos outra vez pelo fim da violência contra a
mulher. Em 2011, nossa cidade foi a
primeira do interior do norte e nordeste a encampar o protesto. Esse ano, a II
Marcha das Vadias-Itabuna participa da 21ª edição da campanha internacional:
“16 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres”. No resto do
mundo, a campanha começa dia 25 de novembro - Dia Internacional de Combate à
Violência Contra as Mulheres - e no Brasil se inicia no dia 20 de novembro -
Dia Nacional da Consciência Negra, dada a tripla discriminação sofrida pela
mulher negra: opressão de gênero, raça e classe social.
Embora
a Marcha seja um importante ato político, nosso movimento não se esgota no
momento em que vamos às ruas.
Desenvolvemos ações formativas realizadas a partir do diálogo com a
sociedade e com outros movimentos sociais e instituições representativas ou
responsáveis pela defesa dos direitos das mulheres. Ao longo do ano, realizamos
oficinas, cursos, palestras e atos em instituições, escolas, associações,
universidades e praças, visando informar e conscientizar sobre questões
relativas ao machismo, violência e direitos das mulheres. Além disso, o
coletivo participou das Conferências Municipal, Territorial e Estadual de
Políticas para as Mulheres e da Audiência Pública da Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito (CPMI) sobre a violência contra a mulher na Bahia.
Nas
nossas ações, o nome “vadias” tem sido o principal motivo de estranhamento das
pessoas. Cabe lembrar que a Marcha das Vadias originou-se no Canadá, num
episódio em que estudantes foram advertidas por um policial de que poderiam ser
estupradas no campus da Universidade de Toronto por se vestirem como
“vagabundas” (sluts, em inglês). O protesto das universitárias foi o início do
movimento SlutWalk, traduzido como Marcha das Vadias e realizado no Brasil nas
maiores capitais e em algumas cidades do interior. Ao se reapropriar do termo
“vadias”, o movimento de mulheres visa provocar a reflexão sobre o contexto de
negativização da conduta feminina ao longo da história. Fundamentalmente,
“vadias” são todas aquelas que se insubordinam, as que são culpabilizadas e
colocadas à margem por desafiar as regras machistas. Assim, afirmamos e
positivamos a palavra: se ser vadia é lutar pelo direito à nossa humanidade,
sejamos todas vadias!
A
polêmica e o incômodo do termo têm rendido bons debates, mas o que justifica o
movimento é o fato da igualdade entre os gêneros no mundo e em nosso país ser
uma utopia. Embora tenhamos uma legislação favorável, como a Lei Maria da
Penha, estamos imers@s na cultura do feminicídio. Em relação ao homicídio
feminino, o Mapa da Violência 2012 apresenta os seguintes dados: no âmbito
mundial, o Brasil ocupa o 7º lugar; no âmbito nacional, a Bahia está em 6º,
Salvador em 94º e Itabuna em 33º; no âmbito estadual, Itabuna se encontra no 9º
lugar. Proporcionalmente, matam-se mais mulheres em Itabuna do que em Salvador.
Os
dados levantados de janeiro a 30 de outubro desse ano, fornecidos pela
Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (DEAM) de Itabuna, perfazem um total
de 1.389 ocorrências. São casos de violência física, sexual, moral e ameaças,
cometidas em sua esmagadora maioria por maridos, namorados e familiares. Mas
esse número estarrecedor não revela nossa tragédia, pois sequer entram nessa
conta as requisições do Ministério Público, da Secretária de Segurança Pública,
as ocorrências no Complexo Policial, as notícias-crime do Conselho Tutelar, do
disque 100 e disque 180.
Impossível
mensurar as agressões que não são denunciadas e as violências simbólicas
cotidianas desgraçadamente naturalizadas: divisão desigual do trabalho
doméstico, desigualdade salarial, ausência de direitos reprodutivos,
demonização e inferiorização nas músicas, propagandas, novelas, programas de
humor.
Por
compreender que reverter esse quadro é um desafio de toda a sociedade,
marchemos junt@s nessa grande mobilização política e façamos desse ato um grito
coletivo que reverbere em todos os cantos. Não há o que temer, como apregoam os
movimentos feministas: “quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede”.
Marcha
das Vadias, 24 de novembro de 2012, saída do Jardim do Ó, às 9h, com destino à
Avenida Cinquentenário.
Coletivo Feminista
Marcha das Vadias-Itabuna
Fonte: Operária das ruínas